domingo, 1 de fevereiro de 2009

Eu atropelo reticências com vírgulas desesperadas porque quero que você saiba, que você veja, que você guarde tudo o que é meu


Por Desirée Furoni
Espresso e Puro

Eu fico na ânsia de te contar sobre as coisas que eu aprendi ao navegar
por outros mares. Tenho vontade de te mostrar o que sempre foi só meu.
Queria que você fosse comigo nos lugares que eu amo e onde enterrei
alguns segredos. É, queria te levar até o meu esconderijo e queria te
mostrar um casal de peixes - grandes e coloridos - que só existe em um
lago do mundo. E eu faço de conta que só eu sei onde eles ficam. Queria
te levar até uma trilha que eu descobri e que conduz até o lugar mais
lindo que existe. E eu faço de conta que só eu botei os meus pés lá. Às
vezes eu passo pelos locais onde as pessoas em volta estão com vendas
nos olhos e caminham bem rápido e acho que você conseguiria enxergar
o que eu enxergo. Queria que você ouvisse as músicas que só eu
conheço. Dá vontade de te chamar para brincar com os gatos das ruas.
Porque eu acho que você também entende todos eles. Ou faço de conta
que é assim. Jogo uns confeitos na realidade - talvez você nem se importe
com nada disso. Talvez você não ache os peixes a coisa mais incrível que
já viu. Talvez você não goste de andar a pé no meio do mato. E até já
conheça a minha Shangri la. Pode ser que para você ela seja só mais um
lugar neste mundo grande demais, onde o tempo passa rápido demais
e onde nós nos perdemos um do outro a todo o momento porque descemos
dos vagões em estações opostas, caminhamos em direções diferentes, o
seu ônibus não me leva para casa, as nossas marginais e as nossas
pontes não são as mesmas e as avenidas por onde seguimos sequer se
cruzam, mas em algum instante passaremos pelas pegadas, sentiremos
uma tristeza absurda e deixaremos recados talhados à lâmina pelos
troncos das árvores ou rabiscados pelos muros na esperança que sejam
lidos e compreendido na fração de segundo que dura um cruzamento com
o farol verde, então um de nós entrará numa contramão qualquer em
busca do outro, sem vontade de se perder por aí sozinho de novo e de
novo e de novo - mesmo que, juntos, estejamos sempre perdidos. O
mundo é grande demais. Ou talvez você prefira caminhar bem rápido
pelas ruas por onde meu sangue corre bem quente enquanto meus passos
são lentos. Sei lá. O mais duro seria descobrir, depois de tudo, que você
espanta os gatos vira-latas que cruzam o seu caminho.

2 comentários:

  1. Simplesmente lindo! Não me sinto muito à vontade em comentar textos muito bons, porque acredito que eles falam sozinhos e todas as respostas se encontram nele.
    Parabéns, Desiree!


    www.paulacabral.wordpress.com

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  2. Nisso você tem razão, mas cada comentário é único e parte de quem o comenta, por isso a importância de se expressaar mesmo diante de textos ótimos como este.
    Quando eu crescer quero escrever como ela!!!!

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